"O motorista travou, travou, travou, mas o autocarro não parava. Foi um terror. Pessoas pelo chão, outras a fugir e crianças aos gritos." Foi este o cenário vivido ontem ao fim da tarde no terminal rodofluvial do Barreiro descrito por Anabela Militão, que testemunhou o momento em que a "carreira 7" abalroou várias pessoas que, pelas 18.20, se encontravam na paragem do autocarro à espera da "carreira 3", tendo provocado a morte a um homem, na casa dos 50 anos, e ferimentos graves numa mulher. Há mais três feridos ligeiros que não correm perigo de vida..Foi um acidente "estranho", como o classificou o próprio adjunto de Comando dos Bombeiros do Barreiro, Rui Silva. O autocarro, que pertence aos Transportes Colectivos do Barreiro, empresa gerida pela autarquia, terá sofrido uma falha mecânica que não permitiu ao motorista travar o veículo, ao iniciar a marcha depois de ter estado parado a recolher passageiros. Incapaz de controlar o autocarro, o motorista não conseguiu impedir a tragédia. O pesado partiu desgovernado, começando por abalroar o autocarro da "carreira 3", que estacionado uns metros à sua frente, passando depois entre aquela viatura e a paragem onde se encontravam os utentes. ."Eu penso que a maioria das pessoas nem se apercebeu que o autocarro galgou o passeio. Isto estava cheio de gente que queria era regressar a casa", disse Anabela, relatando que a vítima mortal sofreu um impacto no ombro que a projectou no chão, onde acabou por ser atropelada pelo autocarro. Seria encontrada pelos bombeiros em paragem cardiorrespiratória e deu entrada já sem vida no hospital local, segundo confirmou o presidente da autarquia Carlos Humberto, adiantando que o homem não se fazia acompanhar de documentos, pelo que não foi possível identificar logo a vítima..Após o atropelamento, o autocarro seguiu a trajectória, sem- pre lentamente, com dezenas de pessoas em pânico a tentar fugir. Uma mulher, que não se apercebeu do perigo, viria igualmente a ser atropelada, registando ferimentos graves ao nível das pernas (estava a ser operada à hora de fecho desta edição). Duas pessoas sofreram ferimentos ligeiros, tal como aconteceu com o próprio motorista, com nove anos de experiência, que necessitou de acompanhamento psicológico. ."Houve uma rapariga que ajudou o homem e que até me pediu água, porque não o estava a conseguir acalmar", descreveu ainda a mesma testemunha que chegou a pensar que "o autocarro só ia parar no rio, porque ele ficou debaixo do terminal", tendo percorrido cerca de 30 metros desgovernado..O presidente da câmara revelou já ter sido aberto um inquérito para apurar as causas do acidente, admitindo não ter explicação para a tragédia. "O autocarro funcionou durante todo o dia e não houve queixa de nenhum motorista. O profissional que o conduzia naquele momento tinha começado a trabalhar às 16.30 e também não fez referência a qualquer problema", adiantou o autarca..Já entre os utentes dos Transportes Colectivos do Barreiro não faltava quem exigisse viaturas com "melhores condições." Júlia Saraiva, que alertou para o "estado degradado dos autocarros e pneus carecas. Isto precisa de manutenção, porque é óbvio que houve falha mecânica. Que confiança podemos nós ter a partir daqui?", questionou.